quinta-feira, 17 de novembro de 2011

CRASE

A crase é um artifício da Língua Portuguesa para evitar que dois sons idênticos (a + a) criem, entre duas palavras, uma pronúncia semelhante à de um hiato. Isso significa que a crase é uma forma de tornar a pronúncia mais agradável do ponto de vista sonoro.
O princípio básico para a ocorrência da crase é a presença de um termo (verbo ou nome) em cuja regência haja a presença da preposição a. A partir daí, para que ela se torne possível, temos as seguintes possibilidades:

1 – CRASE OBRIGATÓRIA

a) Com substantivo feminino que aceite a presença de artigo.

- Todos se dirigiram (a) + (a) sala de jantar. (dirigiram-se ao salão)
- Todos se dirigiram      à      sala de jantar.

- Ela era muito dedicada (a) + (a) família. (dedicada ao filho)
- Ela era muito dedicada      à      família.

- Ele tinha aversão (a) + (a) novela das oito. (aversão ao filme)
- Ele tinha aversão      à      novela das oito.

OBSERVAÇÃO: Caso um substantivo feminino seja utilizado em sentido genérico, não aceitará a presença do artigo, o que impede a ocorrência de crase.

- Ele tinha aversão (a) + ( - ) novela. (qualquer novela)
- Ele tinha aversão  a           novela.

- Ela nunca ia (a) + ( - ) festa de aniversário. (qualquer festa de aniversário)
- Ela nunca ia      a       festa de aniversário.

b) Com pronome demonstrativo: aquele, aquela, aquilo

- Fizemos um elogio (a) + aquele aluno.
- Fizemos um elogio       àquele aluno.

OBSERVAÇÃO: o pronome demonstrativo aquela poderá ser representado por um a, se estiver diante de QUE ou DE (a que / a de). Nesse caso, o a poderá ser substituído por a aquela.

- Não me refiro a qualquer revista, mas a  aquela que te emprestei ontem.
- Nâo me refiro a qualquer revista, mas        à      que te emprestei ontem.

c) Com pronome relativo a qual ou as quais. Nesse caso, cuidado porque o termo que terá a preposição na sua regência estará após o pronome relativo.

- Aquela é a vizinha a qual fiz um elogio (a). (para a qual / vizinho ao qual)
- Aquela é a vizinha à qual fiz um elogio.

d) Quando os substantivos MANEIRA ou MODA estiverem subentendidos.

- Ela usava sapatos (a) + (a moda de ) Luis XV.
- Ela usava sapatos      à                       Luis XV.

- Ele escreve (a) + (a maneira de) Machado de Assis.
- Ele escreve      à                       Machado de Assis.

e) Com locuções adverbiais de modo ou prepositivas femininas (à deriva, às pressas, à toa, à procura de).

- Caminhava (a) + (a) toa pela rua.
- Caminhava       à     toa pela rua.

- Saímos (a) + (a) procura de informação.
- Saímos      à      procura de informação.

f) Com locuções conjuntivas femininas.

- A tempertura aumentava à proporção que o verão se aproximava.
- Esfriava à medida que a noite caía.

g) Diante da indicação de horas.

- Chegamos ao cinema às 19h e saímos às 23h30min.

No entanto, caso o horário seja antecedido de preposição diferente de a, não haverá condições para a ocorrência de crase.

- Estou esperando desde as 14h.
- A reunião foi marcada para a 1h.

CUIDADO!

CRASE DIANTE DE NOMES DE LUGARES

- Logo voltaremos (a) + (a) Itália. (vou a e volto da Itália)
- Logo voltaremos       à     Itália.

- Um dia, iremos (a) + (-) Lisboa. (vou a e volto de Lisboa)
- Um dia, iremos      a     Lisboa.

Nesse último caso, o nome Portugal não aceita artigo, o que impede a ocorrência de crase. Se, no entanto, esse nome vier acrescido de um atributo, o artigo estará presente, criando condições para a crase.

- Um dia, iremos (a) + (a ) Lisboa dos meus sonhos. (vou a e volto da Lisboa dos meus sonhos)
- Um dia, iremos       à       Lisboa dos meus sonhos.

2 – CRASE FACULTATIVA

a) Com pronome possessivo feminino singular ou nome próprio feminino singular.

- Entregue esta encomenda a sua mãe ou a Mariana. (para sua mãe / para Mariana)
- Entregue esta encomenda à sua mãe ou à Mariana. (para a sua mãe / para a Mariana)

b) Com a preposição até.

- Fomos até a praia ao amanhecer.
- Fomos até à praia ao amanhecer.

- Pintou a parede até a porta. (inclusive a porta)
- Pintou a parede até à porta. (até o limite da porta)

Veja que, nesse último caso, a crase se faz necessária para evitar ambiguidade no sentido da frase.

c) Com locuções adverbiais de instrumento femininas.

- Ele foi ferido a faca.
- Ele foi ferido à faca.

ATENÇÃO: Diante das palavras casa, terra e distância, só haverá condições para ocorrência de crase se elas forem especificadas de alguma forma.

- Após a festa, voltamos a casa rapidamente. (para casa)
- Após a festa, voltamos à casa de meus pais rapidamente. (para a casa)

- Depois de horas no mar, voltamos a terra. (para terra)
- Finalmente, voltarei à terra de minha infância. (para a terra de minha infância)
- A espaconave voltou à Terra. (para a Terra = o planeta)

- Olhavam-nos a distância. (qualquer distância)
- Olhavam-nos à distância de dez metros. (distância específica)

PARALELISMO E A CRASE

- Trabalhamos de segunda a sexta. (apenas preposição nos dois casos)[
- Trabalhamos da segunda à sexta. (preposição + artigo nos dois casos)
- Estou aqui entre as 9h e as 16h. (a preposição entre determina o as apenas com artigo nos dois casos.

domingo, 11 de setembro de 2011

TIPOS DE PREDICADO ORACIONAL

Predicado de uma oração é tudo o que não é o sujeito. Isso significa dizer que constiuem o predicado o verbo o objeto (direto ou indireto), o adjunto adverbial e o predicativo (do sujeito ou do objeto). Para identificar o tipo de predicado que há em uma oração vejamos como cada tipo se caracteriza.

1 – PREDICADO VERBAL – o núcleo é o verbo e constitui-se de:
a) verbo intransitivo e poderá conter, ainda, adjunto adverbial.

- Os meninos dormiram.
- Os meninos dormiram cedo.

b) verbo transitivo + objeto (direto ou indireto) e poderá conter, ainda, adjunto adverbial.

- Os meninos cantaram canções de natal.
- Os meninos cantaram canções de natal para seus pais.
- Os meninos cantaram canções de natal para seus pais durante a ceia.

OBS: Apenas dois termos se ligam a verbos: objeto (direto ou indireto) e adjunto adverbial.

2 – PREDICADO NOMINAL –  o núcleo é o predicativo (adjetivo ou substantivo) e constitui-se de:

a) verbo de ligação (quando o predicado é apenas nominal) e predicativo do sujeito.

- Os meninos    pareciam     entusiasmados.
                        v. de ligação   predicativo do sujeito

b) predicativo (do sujeito ou do objeto), quando o predicado é verbo-nominal.

- Os meninos  cantavam canções de natal      entusiasmados.
                            Pred, verbal                     Pred. Nominal (predicativo do sujeito)
- Os meninos         acharam a festa          divertida.
                              Pred. Verbal          Pred. Nominal (predicativo do objeto)

OBS: Predicativo é o termo do predicado que não se relaciona com o verbo.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

AMBIGUIDADE TEXTUAL


Muitos são os casos em que ocorre ambiguidade em um texto. Aliás, dependendo do contexto em que aparece, a possibilidade de múltiplo sentido pode ser um problema. Caso aconteça em um texto informativo ou em uma redação, ela vai provocar uma falha de comunicação, uma vez que o leitor não terá certeza sobre o conteúdo do texto.
Os motivos pelos quais a ambiguidade pode estar presente em um texto são varios. Vejamos alguns casos.

1 – MÁ COLOCAÇÃO DE UMA IDEIA ADVERBIAL

- Viajando para Curitiba, quem só quer saber de calor às vezes sofre.

Nesse caso, a posição em que se encontra a locução adverbial “às vezes” não permite saber, com segurança, a que outro termo da frase ela se refere.

a) “quem só quer saber de calor às vezes”
b) “às vezes sofre”

Esse problema poderia ser resolvido fazendo-se uma escolha. Se a possibilidade (a) for a escolhida, então a frase deveria ter a seguinte estrutura:

- Viajando a Curitiba, quem só às vezes quer saber de calor sofre.

Já se a opção for pela possibilidade (b), a estrutura poderia ser a seguinte:

- Viajando a Curitiba, quem só quer saber de calor sofre às vezes.

2 – USO INCORRETO DO PRONOME RELATIVO

- Estou lendo um poema de Mário Quintana, de que gosto muito.

Gosto muito do poema ou do Mário Quintana?

Nesse caso, a saída é reestruturar a frase de modo a tornar a ideia clara.

a) Estou lendo um poema de que gosto muito, de autoria de Mário Quintana.
b) Estou lendo um poema de Mário Quintana, de quem gosto muito.

3 – USO INDEVIDO DE PRONOME POSSESSIVO

- O gerente disse à secretária que seu dia seria muito atarefado.

O dia do gerente ou o da secretária?

Aqui, a solução pode ser obtida de duas formas:
a) O gerente disse que teria um dia atarefado à secretária.
b) O gerente disse à secretátia que o dia dela seria atarefado.

4 – USO INCORRETO DO PRONOME OBLÍQUO

- O rapaz disse à mãe de sua namorada que a amava muito.

Amava a namorada ou a mãe dela?

Reestruturar a frase é indispensável nesse caso.

a) O rapaz disse que amava sua namorada à mãe dela.
b) O rapaz disse a sua futura sogra que a amava.

5 – COLOCAÇÃO IMPRÓPRIA DO ADJETIVO

- A cantora deixou a plateia indignada.

A cantora ou a plateia indignada?

A escolha de um ou outro sentido exige a recolocação do adjetivo em local apropriado.
a) Indignada, a cantora deixou a plateia. (a cantora)
b) A cantora deixou indignada a plateia. (a plateia)

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

TRANSITIVIDADE VERBAL

É de assustar que as gramáticas da Língua Portuguesa insistam em tratar as características de trasitividade verbal como sendo uma exigência do verbo, quando se sabe que é fácil perceber que os verbos só adquirem essa característica quando empregados em um dado contexto. Para que isso seja constatado, basta que se coloque o mesmo verbo em contextos diferentes, como segue abaixo.

1 – FALAR
a) Esse rapaz fala pouco. (VI)
Falar, com a ideia de comunicar-se, exprime uma ideia completa, de modo que não requer qualquer tipo de complemento (objeto), o que lhe dá característica de intransitividade. Nesse caso, poderá vir acompanhado de uma ideia adverbial.

b) Esse rapaz falou de assuntos interessantes. (VTI – falou de algo)
Falar, nesse contexto, vem acompanhado de um complemento (objeto) ligado ao verbo, necessariamente, por meio de uma preposição (ligação indireta com o verbo). Assim, adquire caracaterísticas de transitividade indireta.

c) Esse rapaz falou a verdade. (VTD – falou algo)
Aqui o verbo falar vem acompanhado de um complemento, ligado diretamente a ele (sem preposição necessária), o que lhe atribui características de transitividade direta.

d) Esse rapaz falou a verdade ao delegado. (VTDI – falou algo a alguém)
Nesse último exemplo, o verbo falar tem ligado a ele um complemento direto (sem preposição necessária - OD) e outro, indireto (com auxílio de uma preposição - OI), o que lhe dá características de transitividade direta e indireta ao mesmo tempo.

Assim, é recomendado que só se avaliem as características de transitividade de um verbo a partir da observaçao do contexto em que ele se encontra e dos termos que o acompanham na oração. Isso significa dizer que não se deve avaliar se um verbo é intransitivo ou transitivo (direto ou indireto) sem que ele esteja empregado em uma frase.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

TROPEÇOS LINGUÍSTICOS


Não são poucas as situações em que nos valemos de expressões ou palavras que ouvimos desde a infância. Ocorre que, em determinados contextos, essa prática pode ser um perigo às nossas aspirações sociais ou profissionais. Vejamos alguns desses casos que ferem a norma culta.


INADEQUADO
ADEQUADO
1) Voltei para casa de a pé.
Normalmente, não se utilizam duas preposições, salvo raros casos.
Voltei para casa a pé.
Se o meio de locomoção for cavalo ou , apenas a preposição a é adequada.
2) Fomos  no cinema ontem.
A preposição em da ideia de meio de locomoção com o verbo ir.
Fomos ao cinema ontem.
Com o verbo ir, se a ideia for de destino, a preposição adequada é a (ir a algum lugar).
3) Prefiro cinema do que teatro.
do que exprime comparação.
Prefiro cinema a teatro.
Prefere-se uma coisa a outra.
4) A gente quer mais atenção.
Expressão coloquial.
Nós queremos mais atenção.
Em língua culta deve-se utilizar o pronome pessoal nós.
5) Fui a uma festa onde me diverti muito.
Onde = localização fixa, física ou geográfica (onde está, fica, mora...)
Fui a uma festa em que me diverti muito.
Eventos não são localizações físicas nem geográficas. Nesse caso, deve-se utilizar em que, na qual...)
6) A princípio, o chefe sou eu.
A princípio = no princípio, no começo (A princípio, imaginei ser uma brincadeira).
Em princípio, o chefe sou eu.
Em princípio = em tese, teoricamente.
7) Isto é compreensível a nivel de comportamento juvenil.
nível refere-se a altura quando utilizado com a preposição a (ao nível do mar).
Isto é compreensível em nível de comportamento juvenil.
Em nível de = em termos de, no que se refere a
8) Tem muitos problemas aqui.
Ter = haver ou existir é coloquial
muitos problemas aqui.
= existem
9) Não sei aonde fica a farmácia.
Aonde = destino (aonde vai / quer chegar...)
Não sei onde fica a farmácia.
Onde = localização fixa, física ou geográfica.
10) Onde você vai tão apressado?
Onde não dá a ideia de destino.
Aonde você vai tão apressado?
Vai a algum lugar

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A LINGUAGEM NO TEXTO DISSERTATIVO


Um texto dissertativo tem características próprias, que devem ser respeitadas para que ele possa cumprir sua função primordial de transmitir ao leitor o ponto de vista do autor sobre determinado assunto. Entre essas marcas está a utilização do nível padrão da linguagem, próprio dos textos científicos, capaz de permitir que as informações do texto sejam rápida e facilmente assimiladas. Isso significa que o autor deve evitar o uso de figuras de linguagem e de palavras ou expressões de outros níveis de linguagem (coloquialismos, gírias, marcas de diálogo), ou que possibilitem sentidos duvidosos ou ambíguos. Então vejamos:

     Entre as várias questões importantes a serem resolvidas no Brasil, pode-se citar a que se refere à qualidade da educação – principalmente nas escolas públicas. Ora, esse problema, aliás, já se arrasta tem muito tempo para continuar apenas alvo de muitas discussões e quase nenhuma ação eficaz. Já está mais do que na hora de a sociedade e as autoridades arregaçarem as mangas e começarem a agir seriamente para que possamos ter uma educação de alto nível, em vez de uma máquina educacional que aprova e forma analfabetos diplomados, no fim do Ensino Médio, como vem acontecendo nas últimas décadas.

Vejam que os termos em destaque não condizem com o padrão linguístico predominante no texto.

a) Ora = marca de oralidade (conversa), que deve ser retirada do texto;
b) se arrasta = expressão coloquial que significa vem ocorrendo;
c) tem = forma coloquial que significa ou faz, exprimindo tempo decorrido;
c) arregaçarem as mangas = expressão coloquial que significa mostrarem-se realmente dispostas.

Assim, a forma apropriada seria a seguinte:

     Entre as várias questões importantes a serem resolvidas no Brasil, pode-se citar a que se refere à qualidade da educação – principalmente nas escolas públicas. Esse problema, aliás, já vem ocorrendo há muito tempo para continuar apenas alvo de muitas discussões e quase nenhuma ação eficaz. Já está mais do que na hora de a sociedade e as autoridades se mostrarem realmente dispostas e começarem a agir seriamente para que possamos ter uma educação de alto nível, em vez de uma máquina educacional que aprova e forma analfabetos diplomados, no fim do Ensino Médio, como vem acontecendo nas últimas décadas.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

MIM / TI ou EU / TU


A escrita sofre uma grande influência da fala, a ponto de algumas expressões, com o tempo e o uso contínuo, passarem a ser aceitas como forma culta. Ocorre, no entanto, que é necessário que se faça uma distinção entre a fala e a escrita no que se refere à correção gramatical, como no caso dos pronomes MIM/TI e EU/TU, visto que há uma constante confusão quanto ao seu uso. Então vejamos como fazer a opção correta na hora de escrever.

1 – Os pronomes pessoais retos (eu, tu) são aqueles que funcionam perfeitamnte como sujeito de um verbo. No entanto, não devem ser utilizados como complemento indireto. Isso significa dizer que tais pronomes não devem ser utilizados após uma preposição (para, de...) que caracterize um objeto indireto. Vejamos:

- Há alguma coisa para eu fazer aqui? (eu = sujeito da forma verbal fazer)
- Há alguma coisa para mim fazer aqui? (incorreto)

- Para ti ser aprovado, deve estudar muito. (incorreto)
- Para tu seres aprovado, (tu) deves estudar muito. (correto)

2 – Os pronomes pessoais oblíquos (mim, ti) são apropriados para atuar como complemento verbal e normalmente vêm após uma preposição (para, de...) que os caracteiza como um objeto indireto de um verbo. Nessa posição (após preposição), tais pronomes não funcionam como sujeito de um verbo. Vejamos:

- Há alguma coisa para eu nesta caixa? (incorreto)
- Há alguma coisa para mim nesta caixa? (correto)

- Trouxeram esta encomenda para ti. (correto)
- Trouxeram esta encomenda para mim. (correto)

- Trouxeram esta amostra para tu analisares. (correto)
- Trouxeram esta amostra para ti analisar. (incorreto)

- Para mim é necessário mais empenho dos funcionários. (correto)
- Para mim, não ser aprovado seria uma catástrofe. (correto)

Note que, no último exemplo, houve apenas uma inversão na ordem dos termos da frase.
- Não ser aprovado seria uma catástrofe para mim.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

ESCREVER BEM X OS VERBOS

Há que se tomar certos cuidados ao escrever no que se refere ao emprego dos verbos e de seus respectivos complementos. Caso queiramos utilizar dois ou mais verbos em sequência, utilizando apenas um complemento, precisamos ter certeza de que ele combina com todas as formas verbais a que queremos que se refira. Isso significa dizer que, se enumeramos dois verbos, o complemento ligado a eles deve ser correspondente à regência de ambos (um objeto direto para dois verbos transitivos diretos; um objeto indireto para dois verbos transitivos indiretos de mesma regência...). Caso não respeitemos esse princípio da regência verbal, haverá um problema sério de estrutura na frase. Vejamos:

1 – Para dar mais qualidade à educação brasileira, é preciso investir criteriosamente e melhorar a rede pública de ensino em primeiro lugar. (INADEQUADO)

Veja que a forma verbal investir deveria estar acompanhada de um complemento indireto (termo ligado ao verbo com auxílio de preposição = investir em algo), enquanto a forma verbal melhorar vem sucedida de complemento direto (termo anexado ao verbo sem auxílio de uma preposição = melhorar algo). Assim, houve uma ruptura na estrutura oracional no que se refere à regência, já que o complemento a rede pública de ensino não é apropriado para a primeira forma verbal em questão (investirr).

Corrigindo-se a frase, teremos:

- Para dar mais qualidade à educação brasileira, é preciso investir criteriosamente na rede pública de ensino e melhorá-la em primeiro lugar.

Note que agora cada forma verbal está acompanha de seu complemento adequado, o que garante a observação do princípio da regência verbal e, consequentemente, a correção da frase.

O mesmo cuidado, portanto, deve ser tomado toda vez que a sequência verbal apresentar qualquer diferença de regência.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

DESCOMPLICANDO A SINTAXE


As funções sintáticas estão, normalmente, associadas aos papéis que cabem a cada classe gramatical exercer dentro de uma oração e das relações possíveis para ela na estrutura oracional. Assim, saber com que outro termo uma classe gramatical pode se relacionar ajuda muito a se reconhecer a função exercida por ela no contexto em que se encontra. Então vejamos:



       ®

SUBSTANTIVO

ADJETIVO

ADVÉRBIO

VERBO
SUBSTANTIVO
SIM PREDICATIVO E COMP. NOMINAL
SIM
COMP. NOMINAL
SIM
COMP. NOM.
SIM
OBJETO
ADJETIVO
SIM
ADJ. ADN., PREDICATIVO E APOSTO
NÃO
NÃO
NÃO
ADVÉRBIO
NÃO
SIM
ADJ. ADV.
SIM
ADJ. ADV.
SIM
ADJ. ADV.
VERBO
SIM
 NÚCLEO DO PREDICADO
NÃO
NÃO
SIM
SUJEITO E PREDICATIVO


Obs: Para o verbo, no quadro acima, considera-se apenas sua forma nominal no infinitivo. As funções que podem ser exercidas por estruturas oracionais em relação a outras serão assunto de uma publicação futura em se tratará apenas da sintaxe externa, portanto das relações possíveis entre orações de um período.

Como se pode observar no quadro acima, as funções sintáticas, dentro de uma oração, podem ser definidas de acordo com a classe gramatical a que cada termo pertence. Isso, aliás, reforça a ideia de que ter um bom conhecimento de morfologia permite entender com mais facilidade como analisar uma oração e a função dos termos que a compõem.

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS RELAÇÕES SINTÁTICAS NA ORAÇÃO

1 – Um adjetivo jamais exercerá função de complemento verbal ou de Adjunto Adverbial, uma vez que não se relaciona com um verbo.

OBSERVAÇÃO: Caso um verbo no infinitivo seja utilizado em fução substantiva (como sujeito, por exemplo), então será possível que um adjetivo se refira a ele na função de Adjunto Adnominal.
Ex.: Viver feliz é viver em paz.
                Adj. Adn.

2 – Um adjetivo, no predicado de uma oração, que não seja parte integrante de um complemento verbal (objeto) só poderá exercer função de predicativo (do sujeito ou do objeto)
Ex.: O juiz  declarou    o réu    culpado.    / O candidato   fez   a prova  tranquilo.
               Suj.           V.              OD          Pred. do Obj.                  Suj.               V           OD        Pred. do Suj.

3 – Um adjetivo ao lado de um verbo de ligação só pode ser Predicativo do Sujeito.
Ex.: O candidato parecia tranquilo.
                 Suj.                      VL         Pred. do Suj.

4 – Um advérbio, por não flexionar nem em número, nem em gênero, não pode exercer qualquer função ligada a um substantivo(Adjunto Adnominal, Complemento Nominal, Predicativo, Aposto...)
Ex.: Os dias passam    rapidamente  aqui.
              Suj.               V                Adj. Adv.          Adj. Adv.

OBSERVAÇÃO: Uma palavra, mesmo que terminada com o sufixo MENTE, se estiver ligada a um substantivo, não estará na função adverbial. Nesse caso, será uma palavra denotativa (de delimitação, por exemplo), exercendo fução de Adjunto Adnominal (função adjetiva).
Ex.: Somente a honestidade pode fazer uma amizade durar.
             Adj. Adn.                    Subst.

domingo, 31 de julho de 2011

USO DO HÍFEN COM PREFIXOS E FALSOS PREFIXOS SEGUNDO O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO

1 –  PREFIXOS (ou falsos prefixos) terminados em VOGAL.

a) Usa-se o hífen caso o segundo elemento seja iniciado por vogal idêntica.
Ex.: contra-ataque, anti-inflamatório, auto-observação, micro-ondas, tele-entrega.

b) Não se utiliza o hífen caso o segundo elemento seja iniciado por vogal diferente.
Ex.: antiaéreo, coeducação, extraescolar, aeroespacial, autoestrada, autoaprendizagem, agroindustrial, hidroelétrico, plurianual.

OBSERVAÇÃO: Com o prefixo CO, não se usa hífen ainda que o segundo termo seja iniciado por vogal idêntica.
Ex.: cooperar, cooperação, coordenar, coordenador, coordenação, coocupante, coobrigação.

2 – Usa-se o hífen se o prefixo (ou falso prefixo) terminar em R e o segundo termo for iniciado também por R.
Ex.: inter-regional. hiper-requintado, super-realista.

3 – Usa-se o hífen com qualquer prefixo caso o segundo elemento seja iniciado por H.
Ex.: anti-horário, super-homem, anti-higiênico, extra-humano, co-herdeiro.

OBSERVAÇÃO: Não há uso do hífen caso um prefixo se junte a um termo que tenha perdido o H inicial no processo de formação da nova palavra.
Ex. coabitar, coabitação (habitação), desumano (humano), inábil (hábil)

4 – Usa-se o hífen nas formações com os prefixos CIRCUM e PAN, quando o segundo elemento começar por vogal, m, n ou h.
Ex.:circum-escolar, circum-murado, circum-navegação; pan-africano, pan-mágico, pan-negritude, pan-histórico

5 – Usa-se hífen nos compostos com os prefixos AB, OB, SOB SUB se o segundo elemento iniciar por B, R ou H.
Ex.; ab-rogar (pôr em desuso), ob-reptício (ardiloso, astucioso), sob-roda, sub-hepático.

6 – Usa-se o hífen com os prefixos ALÉM, AQUÉM, RECÉM, SEM.
Ex.: além-mar, aquém-fronteira, recém-casados, sem-terra.

7 – Usa-se o hífen com os prefixos EX, SOTO, VICE, VIZO, PÓS, PRÉ, PRÓ, independente de como seja iniciado o segundo elemento.
Ex.: ex-diretor, soto-capataz, vizo-rei, pós-graduação (mas pospor), pré-natal (mas previsão), pró-universitário (mas promover).

8 – Caso o prefixo (ou falso prefixo) termine em vogal e o segundo elemento seja iniciado por R ou S, duplicam-se essas consoantes e não se utiliza mais o hífen.
Ex.: autorregulamentação, antessala, infrassom, antirreligioso, antissemita, contrarregra, contrassenha, cosseno, extrarregular, infrassom, minissaia, tal como biorritmo, biossatélite, eletrossiderurgia, microssistema, microrradiografia.

9 – Emprega-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando, não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares (tipo: a divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade, a ponte  Rio-Niterói, o percurso Lisboa-Coimbra-Porto, a ligação  Angola-Moçambique) e bem assim nas combinações históricas ou ocasionais de topónimos/topônimos (tipo: Áustria-Hungria, Alsácia-Lorena, Angola-Brasil, Tóquio-Rio de Janeiro, etc.)

10 – Os compostos com os advérbios BEM e MAL serão grafados com hífen quando formarem um adjetivo ou substantivo composto e o segundo elemento for iniciado por VOGAL ou H.
Ex. bem-aventurado, bem-apessoado, bem-estar, bem-humorado, mal-arrumado, mal-educado, mal-humorado, mal-estar.

OBSERVAÇÃO: O advérbio BEM não se aglutina a muitos elementos iniciados por consoantes.
Ex.: bem-criado (mas malcriado), bem-falante (mas malfalante), bem-nascido (mas malnascido)

 Em muitos compostos, o advérbio BEM aparece aglutinado com o segundo elemento, quer este tenha ou não vida à parte: benfazejo, benfeito, benfeitor, benquerença, etc

sábado, 30 de julho de 2011

NOVAS REGRAS DE ACENTUAÇÃO GRÁFICA II

Há muitos que não veem justificativa para o novo acordo, bem como partilham a ideia de que retirar todos os acentos das palavras da nossa Língua seria o mais sensato. No entanto, vale lembrar que a acentuação gráfica das palavras se deve a motivos distintos e justificáveis.
1 - há muitas palavras cuja pronúncia correta depende da acentuação, visto que há outra(s) cuja grafia é idêntica. Nesses casos, apenas a presença de uma MARCA (acentuação) é capaz de torná-las diferentes.
- Secreria - secretaria / fografo - fotografo / ancia - agencia.

2 - há outras palavras cuja tonicidade na Língua de origem foi preservada, de modo que a presença do acento em Língua Portuguesa é uma questão história (etimológica). As proparoxítonas estão nesse grupo.
- lâmpada, póstumo, vândalo, etc

3 - há, ainda, aquelas cuja acentuação tônica é, em Língua Portuguesa, artificial, como todas as palavras oxítonas, visto não haver no Latim palavras com essa característica. Naquela língua, as palavras eram, no máximo, paroxítonas. Isso, aliás, explica o regime de oposição entre a acentuação das palavras paroxítonas e as oxítonas na nossa Língua. Significa dizer que as regras que recomendam a acentuação de palavras oxítonas funcionam como um impedimento para a acentuação das paroxítonas com a mesma terminação. Vejamos:
a) oxítonas acentuadas: terminadas em A(s), E(s), O(s), EM, ENS
b) paroxítonas acentuadas: todas as NÃO TERMINADAS em A(s), E(s), O(s), EM e ENS.

4 - há, por fim, os acentos necessários apenas para que se diferencie o SOM (fechado ou aberto) da pronúncia ou o número na pessoa da forma verbal (singular/ plural), os chamados acentos DIFERENCIAIS.

Assim, vê-se que não seria possível uma retirada completa da acentuação, mas apenas retirados aqueles acentos que já não se justificam, por não serem necessários realmente para fins de distinção entre palavras.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

NOVAS REGRAS DE ACENTUAÇÃO GRÁFICA

O novo acordo ortográfico trouxe algumas mudanças nas regras de acentuação na nossa Língua. No entanto, elas atingiram, na sua maior parte, apenas palavras paroxítonas, o que demonstra não terem sido as modificações, nem tão numerosas, nem tão profundas quanto se possa imaginar.

1 – O trema (¨), sinal utilizado até então para indicar o U pronunciado e átono (fraco), nos grupos QUI, QUE, GUI, GUE, não será mais utilizado em palavras da Língua Portuguesa. Assim, a partir do novo acordo, escreve-se:
eQUino, eQUestre, freQUente, aGUentar, linGUística, sanGUíneo.

Obeservação: Palavras estrangeiras, já grafadas com trema na língua de origem, continuarão sendo acentuadas com trema (Müller).

2 – Os ditongos abertos ÉI, ÉU, ÓI, deixarão de ser acentuados se ocorrerem em palavras paroxítonas.
Céu, dói, herói, chapéu, anzóis, carretéis;

Mas
Jiboia, colmeia, assembleia, alcateia, paranoia (sem acento).

3 – Nos hiatos, o I e o U tõnicos, formando sílaba sozinhos ou acompanhados de S já não eram acentuados caso viessem sucedidos de NH.Com o novo acordo, também deixarão de ser acentuados caso sejam antecedidos de ditongo, em palavras paroxítonas.
Açaí, baú, timbaúva, saída, caíste, balaústre, maiúscula, veículo (as duas últimas também podem ser incluídas no grupo das palavras acentuadas por serem proparoxítonas);

Mas
Rainha, ladainha e bocaiuva, feiura, baiuca.

4 – As duplas vogais OO e EE deixam de ser acentuadas quando a primeira das duas for tônica.
Voo(voar), enjoo(enjoar), perdoo(perdoar), leem (ler), deem(dar), veem(ver), creem(crer).

5 – Dos acentos diferenciais permanecem apenas os seguintes:
Pôr (infinitivo verbal)                       por (preposição)
- Vamos pôr os livros no lugar e sair por outra porta.

Pôde (3ª p.sing. pret. perf.. ind.)           pode (3ª p. sing. pres. ind.)
Ontem ele não pôde vir, mas hoje ele pode.

Ele    tem        vem                eles    têm          vêm
         contém   convém                   contêm     convêm

Esta casa tem dois quartos, e aquelas têm três.
Júlia vem morar conosco e seus irmãos vêm visitá-la no verão.