quinta-feira, 18 de agosto de 2011

TRANSITIVIDADE VERBAL

É de assustar que as gramáticas da Língua Portuguesa insistam em tratar as características de trasitividade verbal como sendo uma exigência do verbo, quando se sabe que é fácil perceber que os verbos só adquirem essa característica quando empregados em um dado contexto. Para que isso seja constatado, basta que se coloque o mesmo verbo em contextos diferentes, como segue abaixo.

1 – FALAR
a) Esse rapaz fala pouco. (VI)
Falar, com a ideia de comunicar-se, exprime uma ideia completa, de modo que não requer qualquer tipo de complemento (objeto), o que lhe dá característica de intransitividade. Nesse caso, poderá vir acompanhado de uma ideia adverbial.

b) Esse rapaz falou de assuntos interessantes. (VTI – falou de algo)
Falar, nesse contexto, vem acompanhado de um complemento (objeto) ligado ao verbo, necessariamente, por meio de uma preposição (ligação indireta com o verbo). Assim, adquire caracaterísticas de transitividade indireta.

c) Esse rapaz falou a verdade. (VTD – falou algo)
Aqui o verbo falar vem acompanhado de um complemento, ligado diretamente a ele (sem preposição necessária), o que lhe atribui características de transitividade direta.

d) Esse rapaz falou a verdade ao delegado. (VTDI – falou algo a alguém)
Nesse último exemplo, o verbo falar tem ligado a ele um complemento direto (sem preposição necessária - OD) e outro, indireto (com auxílio de uma preposição - OI), o que lhe dá características de transitividade direta e indireta ao mesmo tempo.

Assim, é recomendado que só se avaliem as características de transitividade de um verbo a partir da observaçao do contexto em que ele se encontra e dos termos que o acompanham na oração. Isso significa dizer que não se deve avaliar se um verbo é intransitivo ou transitivo (direto ou indireto) sem que ele esteja empregado em uma frase.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

TROPEÇOS LINGUÍSTICOS


Não são poucas as situações em que nos valemos de expressões ou palavras que ouvimos desde a infância. Ocorre que, em determinados contextos, essa prática pode ser um perigo às nossas aspirações sociais ou profissionais. Vejamos alguns desses casos que ferem a norma culta.


INADEQUADO
ADEQUADO
1) Voltei para casa de a pé.
Normalmente, não se utilizam duas preposições, salvo raros casos.
Voltei para casa a pé.
Se o meio de locomoção for cavalo ou , apenas a preposição a é adequada.
2) Fomos  no cinema ontem.
A preposição em da ideia de meio de locomoção com o verbo ir.
Fomos ao cinema ontem.
Com o verbo ir, se a ideia for de destino, a preposição adequada é a (ir a algum lugar).
3) Prefiro cinema do que teatro.
do que exprime comparação.
Prefiro cinema a teatro.
Prefere-se uma coisa a outra.
4) A gente quer mais atenção.
Expressão coloquial.
Nós queremos mais atenção.
Em língua culta deve-se utilizar o pronome pessoal nós.
5) Fui a uma festa onde me diverti muito.
Onde = localização fixa, física ou geográfica (onde está, fica, mora...)
Fui a uma festa em que me diverti muito.
Eventos não são localizações físicas nem geográficas. Nesse caso, deve-se utilizar em que, na qual...)
6) A princípio, o chefe sou eu.
A princípio = no princípio, no começo (A princípio, imaginei ser uma brincadeira).
Em princípio, o chefe sou eu.
Em princípio = em tese, teoricamente.
7) Isto é compreensível a nivel de comportamento juvenil.
nível refere-se a altura quando utilizado com a preposição a (ao nível do mar).
Isto é compreensível em nível de comportamento juvenil.
Em nível de = em termos de, no que se refere a
8) Tem muitos problemas aqui.
Ter = haver ou existir é coloquial
muitos problemas aqui.
= existem
9) Não sei aonde fica a farmácia.
Aonde = destino (aonde vai / quer chegar...)
Não sei onde fica a farmácia.
Onde = localização fixa, física ou geográfica.
10) Onde você vai tão apressado?
Onde não dá a ideia de destino.
Aonde você vai tão apressado?
Vai a algum lugar

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A LINGUAGEM NO TEXTO DISSERTATIVO


Um texto dissertativo tem características próprias, que devem ser respeitadas para que ele possa cumprir sua função primordial de transmitir ao leitor o ponto de vista do autor sobre determinado assunto. Entre essas marcas está a utilização do nível padrão da linguagem, próprio dos textos científicos, capaz de permitir que as informações do texto sejam rápida e facilmente assimiladas. Isso significa que o autor deve evitar o uso de figuras de linguagem e de palavras ou expressões de outros níveis de linguagem (coloquialismos, gírias, marcas de diálogo), ou que possibilitem sentidos duvidosos ou ambíguos. Então vejamos:

     Entre as várias questões importantes a serem resolvidas no Brasil, pode-se citar a que se refere à qualidade da educação – principalmente nas escolas públicas. Ora, esse problema, aliás, já se arrasta tem muito tempo para continuar apenas alvo de muitas discussões e quase nenhuma ação eficaz. Já está mais do que na hora de a sociedade e as autoridades arregaçarem as mangas e começarem a agir seriamente para que possamos ter uma educação de alto nível, em vez de uma máquina educacional que aprova e forma analfabetos diplomados, no fim do Ensino Médio, como vem acontecendo nas últimas décadas.

Vejam que os termos em destaque não condizem com o padrão linguístico predominante no texto.

a) Ora = marca de oralidade (conversa), que deve ser retirada do texto;
b) se arrasta = expressão coloquial que significa vem ocorrendo;
c) tem = forma coloquial que significa ou faz, exprimindo tempo decorrido;
c) arregaçarem as mangas = expressão coloquial que significa mostrarem-se realmente dispostas.

Assim, a forma apropriada seria a seguinte:

     Entre as várias questões importantes a serem resolvidas no Brasil, pode-se citar a que se refere à qualidade da educação – principalmente nas escolas públicas. Esse problema, aliás, já vem ocorrendo há muito tempo para continuar apenas alvo de muitas discussões e quase nenhuma ação eficaz. Já está mais do que na hora de a sociedade e as autoridades se mostrarem realmente dispostas e começarem a agir seriamente para que possamos ter uma educação de alto nível, em vez de uma máquina educacional que aprova e forma analfabetos diplomados, no fim do Ensino Médio, como vem acontecendo nas últimas décadas.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

MIM / TI ou EU / TU


A escrita sofre uma grande influência da fala, a ponto de algumas expressões, com o tempo e o uso contínuo, passarem a ser aceitas como forma culta. Ocorre, no entanto, que é necessário que se faça uma distinção entre a fala e a escrita no que se refere à correção gramatical, como no caso dos pronomes MIM/TI e EU/TU, visto que há uma constante confusão quanto ao seu uso. Então vejamos como fazer a opção correta na hora de escrever.

1 – Os pronomes pessoais retos (eu, tu) são aqueles que funcionam perfeitamnte como sujeito de um verbo. No entanto, não devem ser utilizados como complemento indireto. Isso significa dizer que tais pronomes não devem ser utilizados após uma preposição (para, de...) que caracterize um objeto indireto. Vejamos:

- Há alguma coisa para eu fazer aqui? (eu = sujeito da forma verbal fazer)
- Há alguma coisa para mim fazer aqui? (incorreto)

- Para ti ser aprovado, deve estudar muito. (incorreto)
- Para tu seres aprovado, (tu) deves estudar muito. (correto)

2 – Os pronomes pessoais oblíquos (mim, ti) são apropriados para atuar como complemento verbal e normalmente vêm após uma preposição (para, de...) que os caracteiza como um objeto indireto de um verbo. Nessa posição (após preposição), tais pronomes não funcionam como sujeito de um verbo. Vejamos:

- Há alguma coisa para eu nesta caixa? (incorreto)
- Há alguma coisa para mim nesta caixa? (correto)

- Trouxeram esta encomenda para ti. (correto)
- Trouxeram esta encomenda para mim. (correto)

- Trouxeram esta amostra para tu analisares. (correto)
- Trouxeram esta amostra para ti analisar. (incorreto)

- Para mim é necessário mais empenho dos funcionários. (correto)
- Para mim, não ser aprovado seria uma catástrofe. (correto)

Note que, no último exemplo, houve apenas uma inversão na ordem dos termos da frase.
- Não ser aprovado seria uma catástrofe para mim.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

ESCREVER BEM X OS VERBOS

Há que se tomar certos cuidados ao escrever no que se refere ao emprego dos verbos e de seus respectivos complementos. Caso queiramos utilizar dois ou mais verbos em sequência, utilizando apenas um complemento, precisamos ter certeza de que ele combina com todas as formas verbais a que queremos que se refira. Isso significa dizer que, se enumeramos dois verbos, o complemento ligado a eles deve ser correspondente à regência de ambos (um objeto direto para dois verbos transitivos diretos; um objeto indireto para dois verbos transitivos indiretos de mesma regência...). Caso não respeitemos esse princípio da regência verbal, haverá um problema sério de estrutura na frase. Vejamos:

1 – Para dar mais qualidade à educação brasileira, é preciso investir criteriosamente e melhorar a rede pública de ensino em primeiro lugar. (INADEQUADO)

Veja que a forma verbal investir deveria estar acompanhada de um complemento indireto (termo ligado ao verbo com auxílio de preposição = investir em algo), enquanto a forma verbal melhorar vem sucedida de complemento direto (termo anexado ao verbo sem auxílio de uma preposição = melhorar algo). Assim, houve uma ruptura na estrutura oracional no que se refere à regência, já que o complemento a rede pública de ensino não é apropriado para a primeira forma verbal em questão (investirr).

Corrigindo-se a frase, teremos:

- Para dar mais qualidade à educação brasileira, é preciso investir criteriosamente na rede pública de ensino e melhorá-la em primeiro lugar.

Note que agora cada forma verbal está acompanha de seu complemento adequado, o que garante a observação do princípio da regência verbal e, consequentemente, a correção da frase.

O mesmo cuidado, portanto, deve ser tomado toda vez que a sequência verbal apresentar qualquer diferença de regência.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

DESCOMPLICANDO A SINTAXE


As funções sintáticas estão, normalmente, associadas aos papéis que cabem a cada classe gramatical exercer dentro de uma oração e das relações possíveis para ela na estrutura oracional. Assim, saber com que outro termo uma classe gramatical pode se relacionar ajuda muito a se reconhecer a função exercida por ela no contexto em que se encontra. Então vejamos:



       ®

SUBSTANTIVO

ADJETIVO

ADVÉRBIO

VERBO
SUBSTANTIVO
SIM PREDICATIVO E COMP. NOMINAL
SIM
COMP. NOMINAL
SIM
COMP. NOM.
SIM
OBJETO
ADJETIVO
SIM
ADJ. ADN., PREDICATIVO E APOSTO
NÃO
NÃO
NÃO
ADVÉRBIO
NÃO
SIM
ADJ. ADV.
SIM
ADJ. ADV.
SIM
ADJ. ADV.
VERBO
SIM
 NÚCLEO DO PREDICADO
NÃO
NÃO
SIM
SUJEITO E PREDICATIVO


Obs: Para o verbo, no quadro acima, considera-se apenas sua forma nominal no infinitivo. As funções que podem ser exercidas por estruturas oracionais em relação a outras serão assunto de uma publicação futura em se tratará apenas da sintaxe externa, portanto das relações possíveis entre orações de um período.

Como se pode observar no quadro acima, as funções sintáticas, dentro de uma oração, podem ser definidas de acordo com a classe gramatical a que cada termo pertence. Isso, aliás, reforça a ideia de que ter um bom conhecimento de morfologia permite entender com mais facilidade como analisar uma oração e a função dos termos que a compõem.

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS RELAÇÕES SINTÁTICAS NA ORAÇÃO

1 – Um adjetivo jamais exercerá função de complemento verbal ou de Adjunto Adverbial, uma vez que não se relaciona com um verbo.

OBSERVAÇÃO: Caso um verbo no infinitivo seja utilizado em fução substantiva (como sujeito, por exemplo), então será possível que um adjetivo se refira a ele na função de Adjunto Adnominal.
Ex.: Viver feliz é viver em paz.
                Adj. Adn.

2 – Um adjetivo, no predicado de uma oração, que não seja parte integrante de um complemento verbal (objeto) só poderá exercer função de predicativo (do sujeito ou do objeto)
Ex.: O juiz  declarou    o réu    culpado.    / O candidato   fez   a prova  tranquilo.
               Suj.           V.              OD          Pred. do Obj.                  Suj.               V           OD        Pred. do Suj.

3 – Um adjetivo ao lado de um verbo de ligação só pode ser Predicativo do Sujeito.
Ex.: O candidato parecia tranquilo.
                 Suj.                      VL         Pred. do Suj.

4 – Um advérbio, por não flexionar nem em número, nem em gênero, não pode exercer qualquer função ligada a um substantivo(Adjunto Adnominal, Complemento Nominal, Predicativo, Aposto...)
Ex.: Os dias passam    rapidamente  aqui.
              Suj.               V                Adj. Adv.          Adj. Adv.

OBSERVAÇÃO: Uma palavra, mesmo que terminada com o sufixo MENTE, se estiver ligada a um substantivo, não estará na função adverbial. Nesse caso, será uma palavra denotativa (de delimitação, por exemplo), exercendo fução de Adjunto Adnominal (função adjetiva).
Ex.: Somente a honestidade pode fazer uma amizade durar.
             Adj. Adn.                    Subst.